A saúde mental de crianças e adolescentes tem se tornado um tema de atenção crescente no Brasil, sobretudo diante dos impactos prolongados da pandemia de covid-19. A interrupção de rotinas escolares, o confinamento prolongado e a insegurança socioeconômica geraram efeitos relevantes no desenvolvimento emocional da população infantojuvenil.
Segundo levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado em 2021, o fechamento de escolas e o isolamento social afetaram cerca de 1,6 bilhão de crianças e adolescentes em todo o mundo, contribuindo para o aumento de sintomas de ansiedade, estresse e depressão. As consequências têm sido observadas não apenas entre jovens em idade escolar, mas também entre bebês nascidos durante o período pandêmico.
Impactos e evidências científicas
Estudo conduzido pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com a consultoria Kantar, apontou que 27% dos cuidadores perceberam algum tipo de regressão no comportamento de seus bebês durante o isolamento social. O levantamento, publicado em 2023, sugere que as limitações na interação social e nas experiências sensoriais afetaram o desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida.
A médica psiquiatra Maria Rodrigues Miranda destaca que os efeitos da pandemia se estendem para além do campo físico. “A pandemia trouxe um impacto profundo na saúde mental infantil, exacerbando questões como ansiedade e depressão. É fundamental que os adultos estejam atentos a sinais de sofrimento e criem ambientes seguros para acolhimento e suporte emocional”, afirma a especialista.
Estratégias para enfrentamento e prevenção
Entre as principais medidas recomendadas por organizações internacionais estão:
- Acesso ampliado à psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental tem demonstrado eficácia no tratamento de sintomas de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tratamento psicológico deve ser acessível e adaptado à faixa etária.
- Programas de suporte escolar: De acordo com a Unicef, a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas contribui para a detecção precoce de transtornos e para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.
- Capacitação de educadores: treinamentos oferecidos a professores e cuidadores permitem a identificação de sinais de alerta, bem como o encaminhamento adequado a serviços especializados, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
- Atividades extracurriculares: práticas como esportes, música, dança e artes plásticas podem reduzir o estresse e estimular habilidades socioemocionais, conforme estudos da My Life – Educação Socioemocional.
Papel coletivo e responsabilidade social
De acordo com a psiquiatra Maria Rodrigues Miranda, a atuação da sociedade é essencial no fortalecimento da saúde mental na infância. “O ambiente familiar é um dos principais pilares nesse processo. Incentivar o diálogo sobre emoções e promover escuta ativa contribui para que crianças expressem seus sentimentos com segurança. A criação de vínculos afetivos saudáveis é apontada como fator de proteção por diversos estudos internacionais”, afirma.
A especialista também destaca a importância de políticas públicas integradas. “É fundamental ampliar o acesso a cuidados psicológicos desde a infância, especialmente em regiões vulneráveis, onde o suporte emocional muitas vezes é limitado”, explica a psiquiatra. A Organização Mundial da Saúde defende a integração da saúde mental nos sistemas de atenção primária, com foco preventivo e inclusivo.
OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção
Em algumas regiões, iniciativas locais têm contribuído para o acolhimento psicológico na infância. É o caso de clínicas que oferecem atendimento especializado em saúde mental infantojuvenil, com foco na prevenção de transtornos, apoio familiar e continuidade no cuidado psicológico, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Um exemplo é a Clínica Salve, que tem promovido ações de suporte emocional por meio de psicoterapia acessível voltada a crianças e adolescentes, favorecendo o acompanhamento contínuo e humanizado desde os primeiros sinais de sofrimento psíquico.