Rafaela, de 21 anos, ainda se angustia ao lembrar das cenas vividas na última quinta-feira (11), quando estava a caminho do trabalho no ônibus 253 – Parque Imperial (via Rua da Prata), por volta das 7h, e foi vítima de importunação sexual por Joel, de 61 anos, que nega o crime. “Eu já li sobre assédio, ouvi relatos, mas nunca imaginei a gravidade. Gravei o vídeo e registrei o BO porque é importante denunciar, não podemos nos calar”, afirma.
A jovem relata que, na ocasião, o ônibus estava mais cheio que o habitual, e ao se aproximar dos Quartéis, sentiu uma pressão próxima ao quadril e coxa, vinda de uma pessoa na sua lateral. “Eu mexia no celular e usava fone de ouvido, então olhei para ver o que estava acontecendo e vi um senhor com boné, olhando para fora do ônibus, talvez para não disfarçar o que estava fazendo”, relembra.
Os momentos seguintes foram de terror. “Fiquei na dúvida se ele percebia o que estava acontecendo, já que fazia uma pressão em mim em uma região específica, mas quando olhei para baixo, vi que ele estava visivelmente excitado e sabia o que estava fazendo”.
Sem saber como reagir, Rafaela mandou uma mensagem para o grupo de trabalho pelo WhatsApp e alertou o noivo. “Estava em choque, não conseguia me mexer, não sabia o que poderia ocorrer, tive medo Por fim, escrevi em um bloco de notas do celular e mostrei para um rapaz ao meu lado, com a mensagem ‘moço, o senhor ao meu lado está excitado e encostando em mim, não sei o que fazer'”.
O passageiro perguntou por gestos se era real e Rafaela confirmou com a cabeça. “Ele trocou de lugar comigo imediatamente”.
Sem rede de apoio
Próximo ao ponto da Secretaria da Pessoa com Deficiência, onde tem uma maior circulação de pessoas subindo e descendo, o ônibus esvaziou e Rafaela aproveitou para ir até o cobrador e contar o que aconteceu. “Expliquei duas vezes que o senhor com boné, agora sentado, havia me assediado”. O cobrador comunicou o motorista e por alguns minutos eles conversaram. “O cobrador voltou e disse que não poderia fazer nada e perguntou se eu queria chamar a polícia. Percebi que minha única rede de apoio era eu mesma. Liguei a câmera, chorando, e comecei a relatar para todos que tinha sido assediada”.
Alguns passageiros pediram para o homem descer, mas outros sugeriram que o caso fosse levado à delegacia. O ônibus seguiu para o Terminal Rodoferroviário, onde o cobrador relatou o incidente ao fiscal, que acionou a Polícia Militar. “Fomos à delegacia central e lá fomos informados para irmos até a Delegacia da Mulher. Não me senti acolhida, a única mulher presente era da equipe de limpeza, quem me ouviu foi um escrivão”, lamenta. Foi registrado um Boletim de Ocorrência por Importunação Sexual. O homem negou as acusações, alegando que colocou uma mochila entre eles devido ao ônibus estar lotado e que em nenhum momento houve assédio.
À procura da testemunha
Agora, Rafaela procura pelo rapaz que leu a mensagem em seu celular e trocou de lugar com ela para testemunhar o ocorrido. “Ele desceu em algum ponto e eu, nervosa, não percebi. Ele usava uma blusa com capuz”.
A empresa responsável pela linha afirmou que o ônibus em questão não possui câmeras, mas prestou apoio à vítima e acionou a PM. A Secretaria de Segurança Pública foi contatada para esclarecer o atendimento à vítima, mas não respondeu a essa questão. Em nota, afirmou que “uma mulher de 21 anos foi vítima de crime sexual, sendo que o investigado de 61 anos negou as acusações e as diligências continuam para esclarecimento do caso”.